Com a vitória dos talibãs no Afeganistão, a China teme uma ameaça terrorista em Xinjiang

Publicado por: Editor Feed News
20/08/2021 13:20:10
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cce / Flickr
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A vitória dos talibãs no Afeganistão tem alimentado os medos do governo chinês de um possível crescimento do radicalismo islâmico na região fronteiriça de Xinjiang – e pode levar a um aperto nas medidas para os muçulmanos uigures.

 

Os medos da China em relação ao terrorismo radical islâmico já são conhecidos e foram o argumento usado pelo governo de Xi Jinping para justificar a criação de campos específicos para centenas de milhares da população muçulmana uigur em 2017, na região de Xinjiang, que faz fronteira com o Afeganistão.

 

A China argumenta que são apenas campos de reeducação e que servem para combater o terrorismo. No entanto, o Ocidente impôs sanções ao país por suspeitas de violações dos direitos humanos, argumentando que o governo chinês está a obrigar os uigures a adoptar a cultura han predominante e que está a deter muçulmanos indiscriminadamente. Os EUA chegaram mesmo a dizer que as políticas são genocidas.

 

Os uigures falam a sua própria língua, que é parecida com o turco, e têm parecenças culturais e étnicas com os países do centro da Ásia. De acordo com o governo chinês, 12 milhões vivem na região de Xinjiang, cerca de metade da população da região.

 

Actualmente, a China reconhece os uigures como uma das 55 minorias étnicas no país e como nativos à região de Xinjiang – mas algumas facções nacionalistas da população defendem a criação de um estado independente, uma posição que é oposta firmemente por Pequim, tendo já havido alguns ataques terroristas levados a cabo por separatistas.

 

Esta situação tem alimentado as suspeitas e os medos das autoridades chinesas, isto depois de em 2002, apenas um ano depois dos Estados Unidos invadirem o Afeganistão, uma especialista em segurança chinesa ter alertado os responsáveis da China para o possível perigo da proximidade dos talibãs, avança o Washington Post.

 

De acordo com o estudo de Wang Yaning, professora da Academia da Força de Polícia Armada da China, mais de 400 separatistas em Xinjiang tinham sido treinados pelos talibãs para o uso de armas e de explosivos.

 

China em conversa com os talibãs

Com a tomada do Afeganistão pelo grupo radical, o medo do crescimento do terrorismo em Xinjiang tem aumentado. No entanto, o afastamento das tropas ocidentais dá à China a oportunidade de assumir um papel mais importante no plano internacional e a reunião entre os talibãs e as autoridades chinesas em Julho foi exemplo disso.

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, recebeu o grupo islâmico em Tianjin, no norte da China, que descreveu como uma importante força militar e política no Afeganistão, e disse esperar que este desempenhe um papel importante no “processo de paz, reconciliação e reconstrução” do país.

 

Na reunião, Yi também exigiu que os talibãs cortassem os laços com o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM), um grupo separatista que a China tem culpado pelos ataques em Xinjiang. O ministro ofereceu-se inclusivamente a dar ajudas económicas e reconhecimento internacional aos talibãs em troca do corte de relações.

 

A ameaça de que o Afeganistão se torne um refúgio para os radicais islâmicos “é real”, afirma Haiyun Ma, professor associado da Universidade Frostburg, ao Post. No entanto, é  difícil entender se o perigo parte especificamente de uigures ou de outros grupos islâmicos.

 

Mas a China deve esperar para saber se os talibãs são de confiança, visto que é perigoso para o grupo lutar “contra o ETIM, porque perderiam a sua legitimidade” enquanto jihadistas, e esta divisão das lealdades pode criar clivagens dentro dos próprios talibãs.

 

O governo de Xi Jinping tem agora de perceber como lidar com o potencial de maior radicalização e com uma possível crise de refugiados. Recentemente, foram enviadas mais forças de segurança para Xinjiang, o que pode levar a mais contestação do Ocidente.

 

Já depois da recente tomada do poder pelos talibãs, a China mostrou-se disponível para conversar outra vez. “Os talibã têm expressado a expectativa de desenvolver boas relações com a China e de ver a China a participar na reconstrução e desenvolvimento do Afeganistão. Apreciamos essa vontade. A China respeita a vontade e a escolha do povo afegão”, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

 

Segundo Sean Roberts, professor da Universidade George Washington, a situação no Afeganistão vai ser um teste para a intenção chinesa de não se imiscuir nos assuntos internos de outros países.

 

Caso o controlo dos talibãs alimente o extremismo na Ásia e comece a afectar os interesses económicos chineses, “será difícil manter a falácia da dicotomia entre envolvimento político e económico”, revela Roberts, ao Washington Post.

 

Fonte: AP,  Planeta ZAP //

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