As forças militares russas posicionadas há semanas perto da fronteira ucraniana começaram a regressar às suas bases, anunciou hoje o Ministério da Defesa russo, quando o Ocidente já se preparava para uma iminente operação militar.
“As unidades dos distritos militares do Sul e do Oeste, que cumpriram as suas tarefas, já começaram a embarcar em meios de transportes ferroviários e rodoviários e iniciarão hoje o retorno às suas bases”, disse o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, citado pelas agências de notícias russas.
Este anúncio é o primeiro sinal de um recuo de Moscovo na crise com a Ucrânia e os países ocidentais que dura desde o final de 2021.
A retirada também ocorre antes da reunião marcada para esta terça-feira entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, que será recebido no Kremlin após uma visita do seu homólogo francês, Emmanuel Mácron, na semana passada.
“Sempre dissemos que, após a conclusão dos exercícios, as tropas retornarão às suas guarnições originais. É isso que está a acontecer, é o processo habitual“, salientou o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, aos jornalistas.
“Juntamente com os nossos parceiros, conseguimos evitar qualquer nova escalada por parte da Rússia”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, citado pela agência francesa AFP, reagindo ao anúncio de retirada dos russos.
Contudo, a Ucrânia olha com desconfiança para estes desenvolvimentos. Kuleba referiu que tem havido “declarações diferentes da Federação Russa a todo o momento”.
“Temos uma regra: não acreditamos quando ouvimos, mas quando vemos“, sublinhou Kuleba numa conferência de imprensa.
“A situação permanece tensa, mas sob controlo”, acrescentou o ministro.
Mas a aparente retirada de tropas russas é um claro sinal de esperança e os mercados financeiros já estão a reagir de forma positiva.
“A ausência de acção armada na fronteira com a Ucrânia e as indicações sobre a vontade de falar parecem suficientes para acalmar os nervos do mercado“, nota à BBC Michael Leister, o chefe de estratégia de taxas de juros do Commerzbank, o maior banco comercial da Alemanha.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reforçou, na segunda-feira, a intenção do país em aderir à NATO, referindo a necessidade de “garantir a sua segurança”. Essa adesão é desconfortável à Rússia.
Contudo, esta ideia da adesão à NATO pode acabar por ser adiada, até porque os países desta Aliança nunca colocaram uma data nesse processo, embora se tenham manifestado favoráveis à entrada da Ucrânia.
Assim, pode haver aqui recuos de parte a parte, sendo que o conflito armado aberto não interessa a ninguém – nem sequer aos russos que teriam a sua economia bastante afetada.
Nesta altura, a reunião de hoje, entre Putin e Scholz, é vista como uma última esperança para impedir um conflito imediato.
Mas se as coisas não correrem bem, há analistas que acreditam que Putin atacará a Ucrânia mal o avião com Scholz deixe o espaço aéreo russo.
A tensão entre Kiev e Moscovo aumentou desde novembro passado, depois de a Rússia ter estacionado mais de 100.000 soldados perto da fronteira ucraniana, o que fez disparar alarmes na Ucrânia e no Ocidente, que denunciou os preparativos para uma invasão daquela ex-república soviética.
Em dezembro, a Rússia exigiu garantias de segurança por parte dos Estados Unidos e da NATO para impedir que a Aliança Atlântica se expandisse mais para o leste e estacionasse armas ofensivas perto de suas fronteiras.
Moscovo escreveu recentemente uma carta a todos os países membros da NATO e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), pedindo-lhes que se posicionassem sobre o que entendem por segurança indivisível na Europa.
A Rússia alega que tem o direito soberano de estacionar tropas em qualquer lugar do seu território e denuncia o fornecimento massivo de armas à Ucrânia pelo Ocidente.
Originalmente Publicado por: Planeta ZAP // Lusa
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