Um êxodo forçado à bala
Por Nuno Teixeira da Silva
Governo ucraniano considera que tem havido inúmeras deportações de cidadãos da Ucrânia, que só têm autorização para sair do país se forem para a Rússia.
Desde que a guerra começou, há muitos ucranianos que, ao deixarem o seu país, só conseguem emigrar para a Rússia.
Quando chegam aos postos de controlo, controlados por militares russos, estes só autorizam a saída dos ucranianos, caso sigam para a Rússia.
O Governo da Ucrânia acusa os russos de “transferências ilegais” de mais de um milhão de ucranianos para a Rússia e considera que estes movimentos são deportações de compatriotas.
O lado russo reagiu entretanto e disse que, de facto, cerca de um milhão de ucranianos mudaram-se, ou para a Rússia, ou para zonas na Ucrânia controladas por forças russas. Mas isso aconteceu para “evacuar” pessoas e retirá-las de “zonas perigosas”.
A Agence France-Presse cruzou-se com o caso de Tetyana, que saiu de Mariupol e não teve outro destino: “Ficámos em choque. Não queríamos ir para a Rússia”.
“Como é que queres ir para um país que te quer matar?”, questionou a ucraniana, que entretanto conseguiu mudar-se para a Letónia.
Também de Mariupol fugiu Svitlana, que recebeu ordens por parte de soldados russos: tinha que ir para uma zona da cidade que estava totalmente controlada pela Rússia.
A ucraniana nem tentou contrariar: “Quando um homem armado te diz aquilo, a verdade é que não podes dizer que não”.
Svitlana foi mais tarde para Starobesheve, onde o cenário era um centro comunitário sobrelotado, com pessoas a dormir no chão: “O pior era o cheiro dos pés sujos, corpos sujos. Esse cheiro ficava nas nossas coisas, mesmo depois de lavá-las muitas vezes”.
Seguiram-se interrogatórios (sobre eventuais familiares no exército ucraniano, por exemplo) e análises ao pormenor – aos telemóveis e até aos corpos dos homens, que tiveram de ficar nus para os russos confirmarem que não havia tatuagens de patriotismo e feridas de guerra.
Ivan Druz tem outro relato para contar, também de Starobesheve: “Perguntaram-me porque escrevi em ucraniano num chat com uma tia. Queriam confirmar que não sou nazi”.
Publicado por: Planeta ZAP
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