Vladimir Putin tem um pesadelo recorrente — que pode transformar-se no exemplo perfeito da profecia que se autorrealiza.
Quando uma pessoa acredita que algo (mesmo que improvável) vai acontecer, age como se a sua previsão já tivesse acontecido — precipitando, frequentemente, a concretização da temida profecia.
Esse é o mecanismo por trás da chamada self-fulfilling prophecy, expressão cunhada em 1949 pelo sociólogo Robert K. Merton.
O exemplo clássico da profecia que se auto realiza é o do rumor de que um banco está em dificuldades. Os clientes acorrem em massa aos balcões do banco, apressando-se a sacar os seus depósitos — e provocando então dificuldades reais na instituição.
Num artigo na The Week, o editor chefe da revista, William Falk, explica esta terça-feira como o presidente da Rússia está a caminho de ver as suas profecias — os seus piores pesadelos — tornarem-se realidade.
Segundo Falk, Vladimir Putin tem um pesadelo recorrente.
Nesse pesadelo, o traiçoeiro Ocidente mina o seu controle sobre a Rússia, os seus ambiciosos rivais preparam um golpe de estado, e o povo em revolta arrasta-o do Kremlin, espancando-o até à morte — da mesma forma humilhante com que os líbios se desfizeram em 2011 do antigo ditador Muammar al-Qaddafi.
Em 2017, no seu livro “All the Kremlin’s Men“, o jornalista russo Mikhail Zygar relata que Putin ficou apopletico quando o seu colega Qaddafi foi morto. E o atual diretor da CIA, William Burns, escreve em The Back Channel que o presidente russo estava obcecado com o tenebroso vídeo do linchamento do ditador líbio.
O atual czar da Rússia, que alguns querem passar a chamar Pravitel, acredita que poderia fugir do tal destino — à custa de agressões bárbaras, da promoção do ódio, e de um nacionalismo quase religioso, diz Falk. Mas a reação exacerbada aos seus medos mais profundos criou as condições para que se tornem realidade.
E o destino de Putin parece tornar-se mais sombrio à medida que soldados ucranianos com armas ocidentais empurram o desorganizado e desmoralizado exército russo de volta para as suas fronteiras.
Apesar de uma ou outra vingança ocasional, Putin parece cada vez mais encurralado — recorrendo até à ameaça de usar armas nucleares.
Estará Putin a fazer blefe?
Ninguém pode dizer ao certo, mas o recurso a armas nucleares táticas teria um enorme custo — para as vítimas do eventual ataque, para os russos, e para Putin.
Ultrapassar a linha vermelha de um ataque nuclear afastaria irremediavelmente a China e Índia — tradicionais aliados da Rússia, por abstenção que seja — e isolaria o país, tornando-o um estado pária.
Um tal ataque desencadearia uma resposta massiva da NATO com forças convencionais, que destruiriam o que resta do exército russo na Ucrânia e afundaria a sua frota no Mar Negro, antevê Falk.
Na mãe-pátria, um número crescente de russos faz sentir o seu descontentamento pelo humilhante fracasso das ações militares na Ucrânia, sucedendo-se os rumores de um golpe de estado para depor Putin — que teria já sobrevivido a um atentado.
E se porventura, por instinto de sobrevivência, a cadeia de comando militar da Rússia se recusasse a cumprir uma ordem de Putin para lançar um ataque nuclear, a sua autoridade estaria irremediavelmente comprometida.
Uma guerra que deveria durar uns dias arrasta-se há meses, com um duro inverno à porta — uma guerra que Putin parece não ser capaz de ganhar. Nas últimas semanas, o exército russo perdeu consistentemente territórios conquistados com atrocidades, deixando-os para trás semeados de sangue.
E mais cedo ou tarde, conclui Falk, Putin vai colher o que semeou.
Por Armando Batista, Originalmente Publicado por: Planeta ZAP //
Editado e Revisado por Mike Nelson
Comentários