Já há oposição armada” para derrubá-lo
Belgorod foi o sinal mais recente de “fraqueza” do Kremlin. Os russos que se calavam agora sentem-se apoiados. A Rússia “vai cair”.
Vladimir Putin estaria à espera de vencer a guerra com a Ucrânia em poucos dias, no máximo em poucas semanas, segundo inúmeros especialistas.
Não venceu e, mais de 15 meses depois, o conflito continua e está um “caos”, de acordo com Yevgeny Prigozhin. Armou o país invadido, alargou a OTAN e tem contra sí todo o ocidente.
Prigozhin é o chefe do já famoso Grupo Wagner, exército privado russo que seria um braço-direito essencial para as forças armadas do Kremlin (e é), mas que tem sido também essencial… nas críticas às estratégias militares que chegam de Moscovo.
Há duas semanas admitiu que a “operação militar especial” na Ucrânia não está andando como a Rússia queria.
Já neste domingo, classificou a guerra com a Ucrânia como “caótica”.
E nesta terça-feira disse que os balanços oficiais do Governo russo – que alega ter matado mais de 1.500 ucranianos em dois dias – são “apenas fantasias”, acrescentando com ironia: nas contas do Kremlin “Acho que já destruímos todo o planeta Terra cinco vezes”.
Putin questionado na Rússia
Belgorod foi o sinal mais recente de “fraqueza” do Kremlin. Esses ataques dentro do território russo “destroem completamente o mito do exército invencível” de Vladimir Putin.
Esta descrição é do analista político Abbas Gallyamov, analista político e que escreveu discursos para… Putin.
A “fraqueza” vê-se entre a população russa. E já há algum tempo: no ano passado partilhámos aqui uma sondagem nacional que mostrava que só 25% dos russos queriam que a guerra continuasse (deixou de haver sondagens sobre o assunto, depois dessa).
Agora, os ataques a Belgorod acentuaram as questões e as críticas. “Não sabemos quem nos vai proteger, quem nos vai ajudar. Porque temos que deixar a cidade sozinhos? Empurrem a linha de frente para mais longe de nós e salvem a região de Belgorod e Shebekino”, apela uma estudante local, no canal Deutsche Welle.
“Será que o nosso governo precisa de nós? Eles vêem as pessoas das zonas de fronteira como descartáveis“, queixou-se Svetlana.
Entre pedidos para Moscovo declarar estado de emergência (que o Governo rejeitou, porque teria de pagar indenizações aos moradores), há também pedidos para acabar a guerra: “Devemos retirar as nossas tropas do território estrangeiro, devolver a Crimeia e os territórios ocupados à Ucrânia. As autoridades precisam de cuidar primeiro da sua própria população”, comentou Alina, também habitante naquela zona perto da Ucrânia.
Stanovaya questiona a capacidade do presidente Vladimir Putin: “As pessoas querem ver uma liderança forte, mas, neste momento, essa liderança parece cada vez mais impotente e confusa”.
“Oposição armada”
A oposição ao presidente da Rússia não fica apenas nos habitantes de Belgorod e não fica nas palavras ou sondagens.
Na Rússia, as pessoas que antes se calavam e percebiam que não havia ninguém para protegê-las caso a “máquina repressiva federal” de Putin se virasse contra elas, agora começam a sentir-se apoiadas, lê-se no canal Freedom.
Oleksandr Musienko, chefe do Centro de Pesquisa Jurídica Militar, avisou no mesmo canal: “Já existe uma oposição armada que está pronta para lutar com as armas nas mãos, por isso o movimento vai crescer”.
O especialista ucraniano prevê uma fusão contra o regime atual de Moscow: “Presumo que haverá outros movimentos semelhantes que também se oporão às autoridades russas. Talvez em algum momento se fundirão com a radical Legião da Rússia Livre, se as suas exigências políticas coincidirem. Não descarto essa opção”.
O Grupo Wagner, acrescenta, vai acentuar a sua oposição a Putin e, por outro lado, podem surgir conflitos entre vários movimentos. No meio desta confusão, o Governo da Rússia deverá perder o controle do seu próprio país: “Toda a situação política interna na Rússia vai cair”.
Para Musienko, ninguém vai querer ter negociações de paz com Putin. O presidente da Rússia é “coisa do passado” e a essa altura já se pensa no próximo líder do país.
Por Nuno Teixeira da Silva, com informações da Agência Planeta ZAP (PT)
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