Vive-se uma “paz ilusória” na Rússia, com Putin reorganizando os serviços secretos e preparando Moscou para eventual nova rebelião armada.
Enquanto isso, ninguém sabe de Prigozhin e isso é um sinal de que “mais problemas” estão a caminho.
Analistas norte-americanos do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla original em Inglês) alertam para movimentações que chegam da Rússia e que indicam a preocupação de Vladimir Putin com eventuais futuros motins semelhantes ao que o Grupo Wagner protagonizou no fim de Junho.
A rebelião dos mercenários de Yevgeny Prigozhin foi pacificada, mas o problema está longe de ter sido resolvido.
Um sinal disso mesmo é a “reorganização dos serviços secretos internos russos“, como aponta o ISW num relatório deste mês, frisando que sugere que “o Kremlin ainda não concluiu que neutralizou, efectivamente, as ameaças de futuras rebeliões armadas” no seguimento do motim do Wagner.
O mesmo Instituto nota que a polícia de Moscou vai começar a treinar tácticas de combate em áreas urbanas, incluindo o uso de metralhadoras e granadas. Um tipo de treino que indicia que “o Kremlin está a tentando melhorar as capacidades das forças de segurança” da capital e “a defender o regime de quaisquer ameaças futuras”, aponta ainda o ISW.
Contudo, “alguns elementos da polícia já estão mostrando desinteresse pelos novos planos de treino”, destaca o Instituto, evidenciando que, assim, o plano do Kremlin pode não funcionar.
Alinhados com a análise do ISW estão os serviços secretos da Ucrânia, cujo chefe, Kyrylo Budanov, prevê que a “Federação Russa está à beira de uma guerra civil“.
Budanov fala de uma sociedade russa “dividida em duas partes”, notando que há muita gente do lado de Prigozhin.
No meio de tudo isto, ninguém sabe onde anda o homem que liderou os mercenários do Wagner na rebelião contra Moscou.
Prigozhin terá quebrado o acordo que firmou com Putin, com a intermediação de Lukashenko, deixando o exílio na Bielorrússia para voltar à Rússia.
Mas ninguém sabe muito bem onde ele anda. E esse mistério “sinaliza mais problemas na Rússia”, como aponta a CNN.
Putin já disse que não perdoa uma traição e, portanto, Prigozhin será um homem com a “cabeça a prémio”.
Mas o destino do Wagner não é o único problema do presidente da Rússia – Putin ainda tem que lidar com o que fazer às valiosas empresas de Prigozhin.
O presidente russo estará a “dissecar” o império do seu ex-aliado que detém uma empresa de média, um negócio de catering e ainda o Grupo Wagner. O caminho passará por entregar o património de Prigozhin “em mãos mais “confiáveis””, como destaca a CNN.
Nos últimos dias, imagens exibidas por canais estatais russos mostraram buscas à casa de Prigozhin em S. Petersburgo, onde foram encontradas perucas que ele poderá ter usado em disfarces, bem como armas, ouro e dinheiro vivo.
Contudo, em informações contraditórias, o ISW destaca que há indícios de que as autoridades russas absolveram Prigozhin de sanções financeiras pela rebelião, tendo-lhe devolvido “activos líquidos significativos”, “possivelmente como parte do acordo negociado” com Putin e Lukashenko.
No fim de contas, a dúvida quanto a Prigozhin parece ser se Putin lhe terá reservado a prisão… ou um caixão.
A análise do ISW também conclui que “autoridades ucranianas e russas escalaram a sua retórica em torno da situação na Central Nuclear de Zaporizhzhia”. Os russos estão, provavelmente, focados em “acusarem a Ucrânia de acções irresponsáveis” em torno da infraestrutura, caso ocorram algum incidente, segundo o Instituto.
Mas, nesta altura, “é improvável que a Rússia gere um incidente radioactivo” na central, afiança ainda o ISW.
Os analistas norte-americanos também notam que a Rússia estará “a formar um novo exército de armas combinadas como parte da Frota do Norte, provavelmente para posicionar a sua preparação contra a NATO“.
Além disso, dão conta do escalar dos ataques ucranianos e russos na área de Bakhmut e frisam que as autoridades da Rússia continuam “a deportar crianças” sob o “pretexto de fornecer assistência médica pediátrica”.
Quanto à estratégia das forças ucranianas no terreno, o ISW nota que tem passado por “desgastar gradualmente a mão de obra e o equipamento russos”, mesmo que isso signifique um avanço mais lento no terreno.
Por Susana Valente,
Com informações do PlanetaZAP ( PT)
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